A classificação internacional de doenças (CID) é uma ferramenta fundamental para a medicina, saúde pública e administração hospitalar, permitindo uma codificação padronizada das patologias. Entre os diversos códigos presentes na CID, o A90 refere-se a uma doença que, apesar de ser classificada como uma condição infecciosa, muitas vezes passa despercebida no cotidiano clínico devido à sua estética de “doença tropical” ou “doença esquecida”.
Neste artigo, pretendo oferecer um guia completo sobre o Código da Doença A90, abordando seus aspectos clínicos, epidemiológicos, métodos de diagnóstico, tratamento e prevenção. Meu objetivo é proporcionar uma compreensão aprofundada sobre essa condição, contribuindo para uma valorização de sua importância na prática médica e na saúde pública.
O que é o Código A90?
Significado do Código A90 na CID
O código A90 faz parte do capítulo de infecções causadas por vírus, especificamente relacionado à febre do dengue. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças, 10ª edição (CID-10), o código A90 representa a Febre do dengue, uma arbovirose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
Febre do dengue, sob o código A90, é uma doença viral aguda que apresenta sintomas variados, podendo evoluir para formas graves ou complicadas. Sua compreensão adequada é essencial para o diagnóstico precoce e o manejo clínico apropriado.
Contexto Epidemiológico
A dengue é uma das doenças mais relevantes no cenário de saúde mundial, especialmente em regiões tropicais e subtropicais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas na última década, houve um aumento significativo no número de casos reportados, configurando-se como uma preocupação global de saúde pública.
A doença apresenta uma alta sazonalidade, geralmente ocorrendo nos meses mais quentes e chuvosos, devido ao ciclo de vida do vetor. Sua calmaria e repetição fazem com que muitos profissionais de saúde tenham dificuldades em reconhecer precoce os sinais clínicos, reforçando a importância de uma compreensão detalhada do código A90.
Epidemiologia da Febre do Dengue
Distribuição Geográfica
A febre do dengue apresenta uma ampla distribuição mundial, concentrando-se principalmente nas áreas tropicais e subtropicais, onde o vetor Aedes aegypti prospera. Países como Brasil, Índia, Indonésia, Filipinas e muitos na África apresentam altas taxas de incidência.
Perfil Demográfico
Embora a doença possa acometer todas as faixas etárias, há maior prevalência em crianças e adultos jovens, especialmente em áreas de alta endemicidade. Estudos indicam que a população urbanizada, com acesso precário a saneamento básico, favorece a circulação do vetor.
Fatores de Risco
- Áreas urbanas e periurbanas com acúmulo de água parada;
- Mobilidade populacional que facilita a disseminação;
- Falta de controle sanitário eficaz;
- Mudanças climáticas, que ampliam os períodos de alta transmissão.
Impacto na Saúde Pública
A febre do dengue é responsável por milhões de casos anuais, originando desde quadros leves até formas graves, como a dengue hemorrágica e a síndrome do choque da dengue, ambas potencialmente fatais.
Etiologia e Transmissão
Agente Etiológico
De acordo com o código A90, a doença é causada pelo vírus do dengue, que possui quatro sorotipos (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), cada um podendo ser responsável por episódios de dengue de diferentes intensidades.
Ciclo de Transmissão
A transmissão ocorre por meio da picada do mosquito Aedes aegypti infectado. Este vetor se prolifera especialmente em ambientes urbanos, com água parada, tornando-se uma ameaça constante nas áreas urbanas e suburbanas.
Isto pode ser resumido na seguinte sequência:
- Mosquito Aedes aegypti infectado faz a picada em uma pessoa saudável;
- O vírus se replica no organismo humano, causando febre e outros sintomas;
- O vetor transmite o vírus para outros indivíduos nas suas próximas picadas.
Ciclo de Vida do Vetor
O ciclo de vida do Aedes aegypti compreende as fases de ovo, larva, pupa e adulto, sendo a fase de ovo altamente resistente a condições ambientais adversas e responsável pelo recolonamento do vetor.
Manifestações clínicas da febre do dengue (Código A90)
Sintomas iniciais
A doença geralmente inicia de forma abrupta, com sintomas que podem incluir:
- Febre alta de início súbito (39-40°C);
- Cefaleia intensa;
- Afta ou dor retroocular;
- Dores musculares e articulares;
- Malaise generalizado;
- Náuseas e vômitos.
Sinais e sintomas adicionais
Com a evolução, podem aparecer manifestações como:
- Erupção cutânea, semelhante ao sarampo;
- Dor abdominal intensa;
- Sangramentos de mucosas;
- Hemorragias leves, como petéquias;
- Plena fadiga.
Diagnóstico diferencial
É importante distinguir o dengue de outras doenças febris agudas, como:
- Zika vírus;
- Chikungunya;
- Febre amarela;
- Leptospirose;
- Malária.
Signos de agravamento
Os sinais de agravamento, que indicam risco de complicações graves, incluem:
- Tensão arterial baixa;
- Dor abdominal importante;
- Hemorragias descontroladas;
- Sinais de choque;
- Diminuição do nível de consciência.
Diagnóstico da Doença A90
Diagnóstico clínico
Baseia-se na história clínica, padrão de febre, sinais de alerta e exclusão de outras doenças com sintomas semelhantes. A confirmação laboratorial é fundamental para diagnóstico definitivo.
Exames laboratoriais
- Sorologia: detecção de anticorpos IgM e IgG;
- Reação em cadeia da polimerase (PCR): identifica o vírus em fases iniciais;
- Hemograma: pode revelar leucopenia, plaquetopenia e alterações na hematócrito.
| Exame | Quando solicitar | O que indica |
|---|---|---|
| Hemograma | Em casos suspeitos de dengue grave | Plaquetopenia, leucopenia, aumenta risco de sangramento |
| Sorologia IgM | A partir do quinto dia de sintomas | Confirma infecção recente |
| PCR | Nos primeiros dias de sintoma | Detecta o vírus diretamente |
Critérios de diagnóstico
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a febre do dengue é confirmada quando há um quadro clínico compatível associado a uma confirmação laboratorial positiva ou evidências epidemiológicas.
Classificação do dengue segundo o COVID (CID-10)
O Código A90 é utilizado para classificar a febre do dengue na CID-10, que fornece categorias específicas para diferentes formas clínicas e complicações, tais como:
| Código CID-10 | Descrição |
|---|---|
| A90 | Febre do dengue |
| A91 | Febre do dengue Hemorrágico ou com complicações |
| A92 | Outras febres virais transmitidas por vetor |
A classificação permite uma abordagem padronizada para registros estatísticos, epidemiológicos e de gerenciamento clínico.
Tratamento e manejo clínico
Tratamento sintomático
Até o momento, não há antiviral específico para o vírus do dengue. Assim, o tratamento consiste em:
- Repouso;
- Hidratação adequada com líquidos orais e intravenosos, quando necessário;
- Uso de analgésicos e antipiréticos como paracetamol;
- Evitar medicamentos que contenham ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios não esteroidais devido ao risco de sangramento.
Monitoramento e acompanhamento
Pacientes com suspeita de dengue devem ser monitorados quanto à evolução clínica, sinais de complicação e manutenção da hidratação. As equipes de saúde devem estar atentas a sinais de agravamento, especialmente durante a fase de febre crítica (geralmente entre o terceiro e sétimo dia).
Piso de atendimento
Em casos leves, manejo ambulatorial é suficiente, enquanto que quadros graves ou complicados requerem hospitalização em unidades de terapia intensiva (UTI), com suporte de hemodiálise, administração de fluidos e suporte ventilatório, se necessário.
Prevenção e controle da dengue
Medidas individuais
- Uso de roupas que cubram a maior parte do corpo;
- Aplicação de repelentes recomendados pelos órgãos de saúde;
- Manutenção do ambiente limpo, eliminando qualquer acúmulo de água parada.
Medidas coletivas
- Controle do vetor: eliminação de criadouros, destruição de criadores potenciais;
- Lavagem periódica e descarte de recipientes que acumulam água;
- Campanhas de conscientização;
- Zoonoses e vigilância epidemiológica.
Vacinação
Desde 2016, a vacina contra o dengue (Dengvaxia) tem sido utilizada em certos países, incluindo o Brasil, em indivíduos previamente infectados. Sua eficácia e recomendações têm variáveis, tornando-se uma ferramenta importante no controle da doença.
Importância do Código A90 na prática clínica e na saúde pública
O reconhecimento do código A90 permite aos profissionais de saúde uma rápida identificação da febre do dengue, facilitando a coleta de dados para vigilância epidemiológica, planejamento de campanhas e alocação de recursos. Além disso, a codificação correta é crucial para registros hospitalares, pesquisa e formulação de políticas de saúde pública eficazes.
Conclusão
Ao longo deste artigo, explorei de forma abrangente o Código da Doença A90, que representa a febre do dengue na Classificação Internacional de Doenças. Entender sua epidemiologia, transmissão, manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento e prevenção é fundamental para profissionais de saúde, gestores e a sociedade como um todo.
A dengue continua sendo um foco de atenção global, e o conhecimento detalhado sobre essa doença, aliando dados epidemiológicos e estratégias de controle, é essencial para reduzir seu impacto.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. O que significa o código A90 na CID?
O código A90 da CID refere-se especificamente à febre do dengue, uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. É utilizado para classificar e registrar casos de dengue na sistemática internacional de códigos de doenças, facilitando o monitoramento epidemiológico e o planejamento de ações de saúde.
2. Quais os principais sintomas da febre do dengue (A90)?
Os principais sintomas incluem febre alta súbita, dor de cabeça intensa, dor retroocular, dores musculares e articulares, erupção cutânea e fadiga. Como a apresentação varia, é necessário atenção aos sinais de agravamento, como sangramentos e dor abdominal intensa.
3. Como é feito o diagnóstico da doença A90?
O diagnóstico clínico é baseado na história e sinais apresentados pelo paciente. A confirmação laboratorial inclui exames de sorologia (IgM e IgG), PCR nos primeiros dias, e hemograma para identificar alterações como leucopenia e trombocitopenia. A combinação desses exames garante uma classificação precisa.
4. Existe um tratamento antiviral para o dengue (A90)?
Não há nenhum antiviral específico aprovado para o vírus do dengue. Assim, o tratamento é sintomático, com foco na hidratação, controle da febre e monitoramento de sinais de complicações. Medicações que aumentam o risco de sangramento, como anti-inflamatórios, devem ser evitadas.
5. Como prevenir a febre do dengue?
A prevenção envolve medidas individuais, como uso de repelentes e roupas que cubram a pele, além de ações coletivas como eliminação de criadouros do mosquito, campanhas de conscientização e, eventualmente, vacinação em regiões de alta endemicidade.
6. Qual a importância do código A90 para a saúde pública?
Ele permite uma padronização na coleta de dados, facilitando o monitoramento epidemiológico, planejamento de estratégias de controle, e avaliação de ações de saúde. Essa codificação é fundamental para a implementação de políticas baseadas em evidências.
Referências
- Organização Mundial da Saúde. Dengue and severe dengue. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dengue-and-severe-dengue
- Ministério da Saúde do Brasil. Protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de dengue. Brasília, 2023.
- World Health Organization. International Classification of Diseases (ICD-10). Geneva: WHO; 2019.
- Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Dengue Virus. Disponível em: https://www.cdc.gov/dengue/index.html