A ferritina é uma proteína essencial para o armazenamento de ferro no organismo e um marcador laboratorial amplamente utilizado para avaliar as reservas de ferro. Entender a tabela de ferritina por idade é fundamental para interpretar resultados clínicos, detectar deficiências precoces e evitar diagnósticos equivocados, especialmente em populações sensíveis como crianças, gestantes e idosos. Neste artigo eu apresento um guia completo, com valores de referência por faixa etária, orientações de interpretação e recomendações práticas para quando investigar alterações nos níveis de ferritina.
O que é ferritina e por que ela importa?
Definição e função
A ferritina é uma proteína intracelular que armazena ferro e o libera de forma controlada. Ela é encontrada em várias células, com concentrações especialmente elevadas no fígado, baço e medula óssea. Em exames laboratoriais, a medida de ferritina sérica reflete, em grande parte, as reservas de ferro do organismo.
Importância clínica
- Ferritina baixa geralmente indica diminuição das reservas de ferro e pode preceder a anemia por deficiência de ferro.
- Ferritina alta pode indicar excesso de ferro, inflamação crônica, doenças hepáticas ou neoplasias.
- A ferritina é um marcador sensível, mas não completamente específico: ela aumenta em processos inflamatórios mesmo quando as reservas de ferro são baixas.
"Valores de ferritina devem sempre ser interpretados no contexto clínico e laboratorial, incluindo sinais de inflamação e outros exames hematimétricos." — Diretrizes clínicas reconhecidas
Por que os valores de referência variam por idade e sexo?
Fatores biológicos que influenciam a ferritina
- Idade: recém-nascidos apresentam níveis naturalmente mais elevados devido ao ferro transferido pela gestação; crianças pequenas tendem a ter valores mais baixos conforme o crescimento rápido consome ferro.
- Sexo: mulheres em idade reprodutiva costumam ter níveis menores por causa de perdas menstruais.
- Gestação: a necessidade de ferro aumenta significativamente, alterando os pontos de corte para deficiência.
- Inflamação: é um fator que eleva a ferritina independente das reservas de ferro.
Consequências práticas
Eu sempre considero que uma única referência universal não é suficiente. As tabelas de referência devem ser usadas como orientação, não como diagnóstico isolado. A interpretação exige correlação com hemoglobina, saturação de transferrina e marcadores inflamatórios (PCR, VHS).
Tabela de Ferritina por Idade
A seguir apresento uma tabela com valores de referência aproximados. Esses valores podem variar entre laboratórios e métodos analíticos; portanto, use-os como guia e verifique os intervalos de referência do laboratório que solicitou o exame.
Faixa etária / Grupo | Valor de referência (µg/L ou ng/mL) |
---|---|
Recém-nascido (soro cordão) | 100 – 400 |
0–6 meses | 50 – 200 |
6–12 meses | 20 – 140 |
1–5 anos | 10 – 90 |
5–12 anos | 10 – 120 |
Adolescentes (meninos) | 20 – 200 |
Adolescentes (meninas) | 10 – 150 |
Adultos (homens) | 24 – 336 |
Adultos (mulheres pré-menopausa) | 11 – 307 |
Adultos (mulheres pós-menopausa) | 24 – 336 |
Gestantes (1º e 2º trimestres) | Valores alvo > 30 (para evitar deficiência) |
Idosos (>65 anos) | Similar aos adultos; interpretar com cautela |
Observações:1. µg/L e ng/mL são unidades equivalentes.
2. Valores inferiores a 15 µg/L em adultos e crianças são geralmente considerados indicativos de deficiência de ferro pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
3. Em gestantes, recomenda-se um ponto de corte mais alto para detectar deficiência funcional (por exemplo, <30 µg/L em alguns protocolos).
Interpretação clínica detalhada
Quando considerar deficiência de ferro
Eu considero deficiência de ferro quando:1. Ferritina sérica < 15 µg/L (em adultos e crianças, sem inflamação);2. Hemoglobina e VCM sugerem microcitose ou anemia microcítica;3. Saturação de transferrina baixa ou capacidade total de ligação do ferro alterada.
Quando ferritina alta não representa sobrecarga de ferro
- Inflamação aguda ou crônica eleva ferritina de forma independente.
- Doenças hepáticas, alcoolismo e neoplasias podem produzir ferritina aumentada.
Para diferenciar:- Verifique PCR (proteína C reativa) e VHS.- Teste de saturação de transferrina e dosagem de ferro sérico ajudam a distinguir sobrecarga de ferro (saturação alta) de ferritina aumentada por inflamação (saturação normal/baixa).
Caso especial: gestação
Durante a gestação, as reservas de ferro são cruciais. Eu sigo a orientação de que valores de ferritina abaixo de 30 µg/L em gestantes podem justificar suplementação, especialmente se acompanhados por sintomas ou queda na hemoglobina.
Como é realizado o exame e preparação
Procedimento
- Coleta de sangue venoso; o exame é simples e rotineiro.
- Não é necessária jejum estrito, mas é recomendado evitar consumo excessivo de álcool nas 24 horas anteriores.
Recomendações antes do exame
- Informe uso de suplementos de ferro — eles podem alterar os níveis de ferro sérico (não diretamente a ferritina, mas o contexto clínico).
- Se houver infecção ou inflamação recente, relate ao laboratório para interpretação adequada.
Casos práticos: interpretação com exemplos
Exemplo 1: Criança de 2 anos com ferritina 9 µg/L
- Interpretação: compatível com reservas baixas de ferro. Investigar dieta, perdas e avaliar hemoglobina. Provavelmente iniciar orientação dietética e considerar suplementação.
Exemplo 2: Mulher adulta com ferritina 200 µg/L e PCR elevado
- Interpretação: ferritina elevada provavelmente por inflamação. Avaliar função hepática, sinais de doença inflamatória e repetir testes após controle da inflamação para verificar reservas de ferro reais.
Exemplo 3: Homem adulto com ferritina 600 µg/L e saturação de transferrina 60%
- Interpretação: suspeita de sobrecarga de ferro (ex. hemocromatose). Encaminhar para avaliação especializada (genética/hepatologia) e considerar estudos adicionais (ferritina serial, ressonância de fígado).
Recomendações práticas e condutas
- Sempre interpreto ferritina junto com hemograma completo e marcadores de inflamação.
- Em casos duvidosos, repetir os exames e medir PCR/VHS.
- Em gestantes, adoto um ponto de corte mais conservador para prevenção.
- Se suspeitar sobrecarga de ferro, solicito saturação de transferrina e, se necessário, investigação genética.
Conclusão
A ferritina é um marcador valioso das reservas de ferro, mas a sua interpretação depende fortemente do contexto clínico, da idade e do estado fisiológico do paciente. Eu recomendo:- Utilizar a tabela de ferritina por idade como referência inicial;- Correlacionar os resultados com hemograma, PCR e exames de ferro;- Considerar pontos de corte diferenciados em gestantes e em presença de inflamação;- Buscar avaliação especializada quando houver sinais de sobrecarga de ferro ou anemia persistente.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Qual é o valor de ferritina que indica deficiência de ferro?
Valores de ferritina inferiores a 15 µg/L são geralmente considerados indicativos de deficiência de ferro em adultos e crianças sem inflamação. Em gestantes, pontos de corte mais altos (por exemplo, <30 µg/L) são frequentemente usados para identificar risco de deficiência.
2. A ferritina alta sempre significa excesso de ferro?
Não. Ferritina alta pode refletir inflamação, doença hepática, infecções ou neoplasias. Para diferenciar excesso de ferro, é importante avaliar a saturação de transferrina e o contexto clínico.
3. Como a idade afeta os valores de ferritina?
Recém-nascidos apresentam níveis naturalmente altos; crianças pequenas tendem a apresentar valores menores devido ao rápido crescimento; adolescentes e adultos têm valores que variam por sexo; idosos devem ser avaliados com cautela por comorbidades.
4. Devo interromper suplementos de ferro antes de fazer o exame?
Não é estritamente necessário interromper, mas eu peço que pacientes informem o uso de suplementos, pois isso pode influenciar a interpretação clínica. Em alguns casos, o médico pode solicitar suspensão temporária, conforme o objetivo do exame.
5. O que fazer se a ferritina estiver baixa mas a hemoglobina estiver normal?
Isso pode indicar estádio inicial de depleção de ferro (reservas baixas sem anemia). Eu normalmente monitoro e avalio dieta, causas de perda de ferro e, se indicado, inicio medidas preventivas/suplementação.
6. A ferritina pode variar entre laboratórios?
Sim. Diferentes laboratórios e métodos analíticos podem apresentar intervalos de referência distintos. Sempre compare o resultado com os intervalos fornecidos pelo laboratório que realizou o exame e discuta a interpretação com seu médico.
Referências
- World Health Organization (WHO). Ferritin concentrations for the assessment of iron status and iron deficiency in populations. Disponível em: https://www.who.int (consulte as recomendações da OMS sobre pontos de corte para ferritina).
- Lab Tests Online. Ferritin: What is ferritin? Disponível em: https://labtestsonline.org (informações sobre interpretação e intervalos de referência).