A testosterona é um hormônio central para o desenvolvimento, manutenção e bem‑estar tanto em homens quanto em mulheres. Entender como os níveis de testosterona variam com a idade ajuda a interpretar exames, identificar alterações clínicas e orientar decisões terapêuticas. Neste artigo eu apresento uma tabela de referência por faixa etária, explico os fatores que afetam os resultados, descrevo sintomas associados a níveis alterados e sugiro quando investigar ou tratar. Meu objetivo é oferecer uma visão acadêmica, porém acessível, para leitores que buscam informações confiáveis e práticas.
Entendendo a testosterona: conceitos essenciais
O que é testosterona?
A testosterona é o principal andrógeno produzido pelos testículos nos homens e, em menor quantidade, pelos ovários nas mulheres e pelas glândulas suprarrenais em ambos os sexos. Ela regula características sexuais, massa muscular, densidade óssea, humor e libido.
Formas de testosterona medidas em laboratório
Os laboratórios podem medir:- Testosterona total (ligada a albumina + ligada à SHBG + livre)- Testosterona livre (a fração biologicamente ativa)- Níveis de SHBG (globulina transportadora), que influenciam a fração livre
Eu sempre enfatizo que a interpretação exige considerar a clínica do paciente e o tipo de ensaio laboratorial usado.
"O diagnóstico de deficiência de testosterona requer sintomas compatíveis e níveis séricos baixos confirmados por métodos confiáveis."
Tabela de referência: testosterona por idade
Observações sobre a tabela
- As faixas abaixo representam valores médios e intervalos aproximados. Há variações entre laboratórios, métodos (imunoensaio vs. LC‑MS/MS) e populações.
- Valores apresentados em ng/dL e nmol/L (1 ng/dL ≈ 0,0347 nmol/L).
- Em crianças e adolescentes, os valores mudam rapidamente com os estágios de puberdade; aqui ofereço uma categorização prática.
Tabela para homens e mulheres:
Faixa etária | Homens — Testosterona total (ng/dL) | Homens — (nmol/L) | Mulheres — Testosterona total (ng/dL) | Mulheres — (nmol/L) |
---|---|---|---|---|
Criança (pré‑puberal) | < 20 | < 0,7 | < 10 | < 0,35 |
Puberdade inicial (9–13 anos) | 20–300 | 0,7–10,4 | 5–20 | 0,17–0,7 |
Puberdade média/tardia (14–18 anos) | 200–800 | 6,9–27,8 | 10–40 | 0,35–1,4 |
Adulto jovem (19–29 anos) | 300–1000 | 10,4–34,7 | 15–70 | 0,52–2,43 |
Adulto (30–39 anos) | 280–950 | 9,7–33,0 | 12–60 | 0,42–2,08 |
Meia‑idade (40–59 anos) | 250–900 | 8,7–31,2 | 10–50 | 0,35–1,74 |
Idade avançada (60–69 anos) | 200–800 | 6,9–27,8 | 8–40 | 0,28–1,39 |
Idosos (70+ anos) | 150–700 | 5,2–24,3 | 5–30 | 0,17–1,04 |
Fonte: valores médios e intervalos aproximados compilados a partir de guidelines e estudos populacionais. Ver referências.
Interpretação clínica: como eu avalio os resultados
1. Confirme o método e a hora da coleta
- A testosterona tem variação circadiana: mais alta pela manhã. Eu peço coletas antes das 10h para homens adultos.
- Preferir métodos mais precisos (LC‑MS/MS) quando disponível.
2. Considere sintomas e sinais
- Sintomas de hipogonadismo (baixa testosterona):
- Fadiga persistente
- Redução de libido e função erétil
- Perda de massa muscular e força
- Aumento de gordura corporal
- Osteoporose ou fraturas
- Sintomas de hiperandrogenismo em mulheres:
- Hirsutismo, acne, irregularidade menstrual
3. Repetição e confirmação
- Eu recomendo confirmar níveis baixos em pelo menos duas amostras matinais separadas, juntamente com avaliação clínica.
Fatores que influenciam os níveis de testosterona
- Idade: declínio gradual a partir dos 30–40 anos (≈1% ao ano em média).
- Obesidade e síndrome metabólica: associadas a redução de testosterona.
- Doenças crônicas: insuficiência renal, cirrose, infecções crônicas.
- Medicamentos: opioides, glucocorticoides, quimioterápicos.
- Tabagismo e consumo de álcool: podem afetar níveis.
- Estado nutricional e atividade física.
Quando investigar e quando tratar
Indicações para investigação
- Sintomas compatíveis com disfunção hormonal.
- Redução inexplicada de massa muscular, libido ou densidade óssea.
- Infertilidade (investigação completa do eixo reprodutor).
Critérios gerais para tratamento (resumido)
- Presença de sintomas clínicos relevantes.
- Testosterona sérica total persistentemente baixa confirmada.
- Exclusão de causas reversíveis (medicamentos, doenças agudas).
- Discussão dos riscos, benefícios e monitoramento.
Eu sigo guidelines como os da Endocrine Society para orientar indicações, dosagens e acompanhamento.
Diagnóstico diferencial e confirmação
- Distinga entre hipogonadismo primário (testicular) e secundário (hipotalâmico/hipofisário) usando LH e FSH.
- Avalie prolactina se houver suspeita de lesão hipofisária.
- Para mulheres com hiperandrogenismo, investigue síndrome dos ovários policísticos (SOP), tumores androgênicos e hiperplasia adrenal congênita.
Exames complementares úteis
- LH, FSH, prolactina
- SHBG (aumenta com idade e alguns medicamentos; diminui na obesidade)
- Hemograma, perfil lipídico, glicemia, função hepática
- Densitometria óssea (quando indicado)
- Em casos selecionados: ressonância magnética de hipófise
Tabela de conversão rápida
Unidade | Fator de conversão |
---|---|
ng/dL → nmol/L | multiplicar por 0,0347 |
nmol/L → ng/dL | multiplicar por 28,82 |
Recomendações práticas que eu sigo na clínica
- Repetir o exame pela manhã e usar o mesmo laboratório/método quando possível.
- Avaliar sintomas, comorbidades e medicamentos concomitantes.
- Monitorar testosterona, hematócrito e PSA (em homens) durante tratamento.
- Focar em medidas não farmacológicas (controle de peso, exercício) antes de considerar terapia hormonal quando aplicável.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Quais são os valores normais de testosterona por idade?
Valores variam conforme a idade, sexo e método laboratorial. Para homens adultos, valores típicos apresentados pelos laboratórios variam entre ~300–1000 ng/dL para adultos jovens, com declínio progressivo nas décadas seguintes. Para mulheres, os valores são muito mais baixos (tipicamente 15–70 ng/dL em mulheres pré‑menopausa). É essencial comparar com a faixa de referência do laboratório e interpretar clinicamente.
2. A testosterona diminui com a idade em todos os homens?
Em geral, sim: há um declínio médio de ~1% ao ano após os 30–40 anos, influenciado por doenças crônicas, obesidade e uso de medicamentos. Contudo, nem todo homem apresenta sintomas; muitos mantêm níveis adequados e boa função.
3. Quando devo repetir o exame de testosterona?
Eu repito quando o resultado inicial for baixo e o paciente tiver sintomas compatíveis. Recomendo pelo menos duas amostras matinais separadas para confirmar a redução antes de diagnosticar hipogonadismo.
4. A terapia com testosterona é segura para idosos?
A terapia pode melhorar sintomas em homens com deficiência confirmada, mas exige avaliação de riscos (hematócrito aumentado, próstatas, risco cardiovascular). Eu discuto riscos individualizados e faço acompanhamento rigoroso. Diretrizes atuais orientam cautela e monitoramento.
5. Mulheres devem medir testosterona?
Sim, em casos de hirsutismo, acne severa, irregularidade menstrual ou sinais de hiperandrogenismo. A interpretação difere da masculina e o objetivo é identificar causas tratáveis como SOP ou tumores androgênicos.
6. Como posso aumentar naturalmente a testosterona?
Estratégias com evidência incluem:- Perda de peso e redução de gordura corporal- Exercício de resistência (treinamento de força)- Sono adequado (7–9 horas)- Controle de comorbidades (diabetes, dislipidemia)- Redução de consumo excessivo de álcoolEu sempre complemento com avaliação médica para causas subjacentes.
Conclusão
A interpretação dos níveis de testosterona por idade exige visão clínica integrada: não basta um número isolado. Eu recomendo avaliar sintomas, confirmar exames matinais em laboratório confiável e considerar fatores que alteram a concentração sérica. As tabelas que apresentei oferecem uma referência prática, mas devem ser usadas em conjunto com a avaliação clínica e guidelines especializados. Em caso de dúvidas ou sintomas relevantes, a investigação endócrina e a discussão sobre riscos e benefícios do tratamento são essenciais.
Referências
- Endocrine Society. Clinical Practice Guideline: Testosterone Therapy in Men with Hypogonadism. Disponível em: https://www.endocrine.org
- Mayo Clinic. Testosterone tests and results. Disponível em: https://www.mayoclinic.org
- Handelsman DJ, et al. "Guidelines for androgen therapy in men." Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. (revisões e diretrizes clínicas)
- Bhasin S, et al. "Testosterone therapy in adult men with androgen deficiency syndromes: an Endocrine Society clinical practice guideline." (consenso e recomendações)
- Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia — diretrizes clínicas locais e materiais educacionais.