A alergia à proteína do leite de vaca (APLV), com o código CID (Classificação Internacional de Doenças) T78.0, é uma das alergias alimentares mais comuns especialmente em crianças. Apesar de ser frequentemente confundida com intolerância à lactose, trata-se de uma resposta imunológica do organismo a uma ou mais proteínas presentes no leite, como a caseína e as lactoalbuminas. Devido à sua prevalência, entender os aspectos relacionados à APLV CID é fundamental para pais, profissionais de saúde e responsáveis pelo cuidado de crianças e adultos afetados.
Neste artigo, oferecerei um guia completo sobre a APLV CID, abordando suas definições, sintomas, diagnósticos, tratamentos, além de estratégias de manejo e os avanços na área. Meu objetivo é fornecer informações fundamentadas, claras e acessíveis para auxiliar na compreensão dessa condição e promover uma melhor qualidade de vida aos afetados.
O que é Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV)?
Definição e classificação
A APLV, de acordo com a CID T78.0, é uma reação imunológica anormal às proteínas presentes no leite de vaca. Essa reação pode variar de leve a grave, levando a sintomas que afetam diferentes sistemas do corpo, como o sistema respiratório, digestivo, cutâneo, entre outros.
Diferentemente da intolerância à lactose — que é uma incapacidade de digerir a lactose devido à deficiência de lactase — a APLV envolve uma resposta do sistema imunológico, como uma reação de hipersensibilidade do tipo I ou outros mecanismos imunológicos, que podem ser classificados conforme a gravidade e o mecanismo envolvido.
Epidemiologia
A APLV é uma das alergias alimentares mais comuns na infância, especialmente nas primeiras duas décadas de vida. Estima-se que aproximadamente 2 a 3% das crianças menores de um ano apresentem a condição, embora muitos casos possam evoluir para a sua resolução com o tempo.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência varia de acordo com a região e os hábitos alimentares, porém, a criança até os 3 anos de idade que apresenta sintomas deve ser avaliada para essa condição.
Causas e fatores de risco
Dentre os fatores que podem predispor ao desenvolvimento da APLV, destacam-se:
- Genética: história familiar de alergias alimentares, rinite ou asma.
- Exposição precoce ao leite de vaca: introdução precoce na alimentação.
- Intestino imaturo: especialmente em bebês, que favorece a passagem de proteínas não totalmente digeridas ao sistema imunológico.
- Presença de outras alergias: ou condições atópicas.
- Infecções gastrointestinais: que podem aumentar a permeabilidade intestinal.
Sintomas e sinais de APLV
Sintomas mais comuns
A apresentação clínica da APLV pode variar amplamente, dependendo da intensidade da reação imunológica. Os sintomas podem surgir logo após a consumo do leite ou de derivados, podendo incluir:
- Reações cutâneas: urticária, eczema atópico, prurido e inchaço.
- Sintomas gastrointestinais: vômito, diarreia, cólicas, dor abdominal, sangue nas fezes.
- Sintomas respiratórios: dificuldade para respirar, sibilância, congestão nasal, tosse.
- Anaphylaxia: reação severa e potencialmente fatal, com queda da pressão arterial, perda de consciência e dificuldade respiratória.
Sintomas em diferentes faixas etárias
Faixa Etária | Sintomas mais frequentes |
---|---|
Recém-nascidos e lactentes | Vômito, cólicas intensas, diarreia, eczema, lacrimejamento, urticária |
Pré-escolares | Asma, rinite, eczema, dificuldades digestivas |
Adultos | Reações cutâneas, sintomas gastrointestinais, rinite e asma |
Sinais de gravidade
Embora muitas reações sejam leves, a reação anafilática exige atenção imediata, com risco de vida. Sinais de alerta incluem:
- Dificuldade para respirar
- Inchaço no rosto, lábios, garganta
- Perda de consciência
- Queda súbita da pressão arterial
Reconhecer esses sinais é fundamental para buscar auxílio médico de emergência.
Diagnóstico de APLV CID
Avaliação clínica
O diagnóstico inicial envolve uma anamnese detalhada, incluindo:
- História de consumo de leite e derivados.
- Relato de sintomas após a ingestão.
- Histórico familiar de alergias.
Testes laboratoriais e de provocação
Para confirmar a APLV, normalmente realiza-se uma combinação de exames:
- Testes cutâneos (prick test): identificam sensibilização às proteínas do leite.
- Dosagem de-IgE específica: mede anticorpos IgE contra proteínas do leite.
- Teste de provocação oral: considerado o padrão-ouro, onde o paciente ingere lentamente uma quantidade controlada de leite sob supervisão médica, para observar a reação.
Diagnóstico diferencial
A APLV deve ser diferenciada de:
- Intolerância à lactose.
- Reações não imunológicas ao leite.
- Outras doenças gastrointestinais ou dermatológicas.
CID e classificação
O CID T78.0 refere-se a "Reações alérgicas alimentares generalizadas", incluindo a APLV. É importante que a classificação seja bem compreendida para fins de registros clínicos, estatísticas, e condução do tratamento adequado.
Tratamento e manejo da APLV CID
Evitar o consumo de leite de vaca e derivados
A medida principal é a eliminação rigorosa do leite de vaca e seus derivados na dieta do paciente. Isso inclui:
- Leite em pó e líquidos.
- Queijos, iogurtes, manteiga.
- Produtos industrializados que contenham leite, como biscoitos, sobremesas, sopas, entre outros.
Substitutos do leite
Para bebês, especialmente os recém-nascidos:
- Formulações hidrolisadas: com proteínas parcialmente ou totalmente hidrolisadas, que reduzem a antigenicidade.
- Leites especiais à base de soja ou aminoácidos livres: utilizados quando há intolerância a formulações hidrolisadas ou alergia múltipla.
Para adultos e crianças mais Velhas:
- Leites vegetais: de soja, amêndoas, coco, aveia, entre outros, sempre verificando a composição e evitando ingredientes derivados do leite.
Tratamento dos sintomas
Em casos leves, o controle dietético é suficiente. Para sintomas agudos ou gravidade:
- Antihistamínicos: para aliviar urticária e prurido.
- Corticosteroides: em manifestações inflamatórias mais severas ou reações prolongadas.
- Epinefrina: administrada na anafilaxia, como medida de emergência.
Acompanhamento médico
A avaliação periódica por dermatologistas, alergologistas ou pediatras é indispensável para:
- Monitorar possíveis resoluções.
- Ajustar a dieta.
- Verificar sinais de sensibilização residual.
Educação do paciente e responsáveis
Orientar sobre a leitura de rótulos, cuidados em ambientes escolares, restaurantes e sobre a importância de sempre portar medicamentos de emergência é fundamental para a segurança do paciente.
Prevenções e estratégias de manejo a longo prazo
- Introdução cautelosa de leite na alimentação infantil: preferencialmente sob acompanhamento médico.
- Etiquetagem de alimentos: garantir que produtos industrializados não contenham ingredientes derivados do leite.
- Controle de exposições acidentais: por meio de educação alimentar.
- Revisões periódicas: visto que muitas crianças podem desenvolver tolerância com o tempo.
Novas pesquisas e avanços na área
Nos últimos anos, houve avanços no entendimento da imunologia da APLV, com estudos focados em:
- Terapias imunomoduladoras.
- Alimentos probióticos e prebióticos que possam ajudar na modulação da resposta imunológica.
- Desenvolvimento de vacinas e imunoterapias específicas.
Além disso, o estudo do microbioma intestinal tem se mostrado promissor na compreensão das respostas alérgicas e na potencial modulação imunológica.
Para saber mais, recomendo consultar os sites do Hospital Alergoimun e da Organização Mundial da Saúde.
Conclusão
A alergia à proteína do leite de vaca, classificada pelo CID T78.0, é uma condição que exige atenção especial, principalmente na infância. Embora seja uma das alergias alimentares mais frequentes, seu diagnóstico e manejo adequados podem garantir que o paciente viva com segurança e qualidade de vida.
A compreensão dos sintomas, a realização de exames precisos, a adoção de uma dieta livre de leite e derivados, além de acompanhamento contínuo, são essenciais. Com o avanço nas pesquisas, há esperança de tratamentos mais eficientes no futuro, promovendo uma melhor convivência para quem convive com essa alergia.
Lembre-se de que cada pessoa é única, e o acompanhamento médico especializado é sempre imprescindível para uma conduta correta e segura.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Alergia à proteína do leite de vaca pode ser confundida com intolerância à lactose?
Sim, muitas pessoas confundem ambas as condições devido à semelhança dos sintomas gastrointestinais. No entanto, a alergia envolve uma resposta imunológica às proteínas do leite, enquanto a intolerância é a incapacidade de digerir a lactose, um açúcar presente no leite. O diagnóstico diferencial deve ser feito por profissionais de saúde com exames específicos.
2. A APLV desaparece com o tempo?
Em muitos casos, especialmente em crianças, a alergia à proteína do leite de vaca pode ser superada ao longo dos anos. Aproximadamente 80% das crianças apresentam resolução até os 3 a 5 anos. No entanto, alguns indivíduos podem manter a alergia por toda a vida.
3. Quais alimentos industrializados devem ser evitados?
Qualquer produto que contenha ingredientes derivados do leite, como leite líquido, queijos, iogurtes, manteiga, sorvetes, entre outros, devem ser evitados. Além disso, é importante verificar os rótulos de alimentos processados, que podem conter traços de leite na composição.
4. Como substituir o leite na alimentação de crianças?
Para bebês, fórmula hipoalergênica ou aminoácidos livres são indicadas. Para crianças mais velhas e adultos, leites vegetais (como soja, amêndoas ou aveia) podem ser utilizados, sempre atentos ao valor nutricional e à presença de ingredientes derivados do leite.
5. Quais os riscos de não tratar a APLV?
Se não for adequadamente gerenciada, a APLV pode levar a episódios de anafilaxia, desnutrição, deficiências nutricionais e impacto emocional causado pelo medo de reações adversas. Portanto, o acompanhamento médico é fundamental.
6. É possível consumir derivados de leite processados de forma segura?
Alguns produtos processados podem ser rotulados como livres de leite e derivados. No entanto, é importante ler atentamente os rótulos e, sempre que possível, consultar a declaração de ingredientes. Produtos certificadamente sem leite representam um risco menor de reação.
Referências
- Organisation for Allergy and Clinical Immunology (2018). Guidelines for the Diagnosis and Management of Food Allergy in Children. Disponível em: https://acaai.org
- World Health Organization (WHO). Allergy and hypersensitivity. Disponível em: https://www.who.int
- Varónica, S., & Borges, T. (2020). Alergia à proteína do leite de vaca: revisão atualizada. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, 43(2), 124-132.
- Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia (2022). Guia de Alergias Alimentares. Disponível em: https://www.sbac.org.br