A luxação do acrômio-clavicular (AC) é uma lesão frequente em esportes de contato, acidentes de trânsito ou quedas diretas no ombro, representando uma das causas mais comuns de instabilidade nesta articulação. Apesar de parecer uma condição simples, a luxação acromio-clavicular pode variar de leve a grave, influenciando significativamente a função do ombro e a qualidade de vida do paciente.
Ao longo deste artigo, busco oferecer um guia completo sobre o CID (Código Internacional de Doenças) relacionado à luxação do AC, abordando aspectos que envolvem diagnóstico, classificação, opções de tratamento, reabilitação e fatores que podem influenciar a escolha da conduta clínica. Minha intenção é ajudar profissionais de saúde, estudantes e leitores interessados a compreenderem melhor essa lesão, suas nuances e o caminho para uma recuperação eficaz.
O que é a Luxação Acromio-Clavicular?
A luxação acromio-clavicular ocorre quando há uma ruptura ou deslocamento entre a clavícula e o acrômio, que são os ossos que compõem a articulação do ombro. Esta articulação é estabilizada por uma complexa rede de ligamentos, sendo o ligamento coracoclavicular um dos principais responsáveis pela manutenção da sua estabilidade.
Anatomia da articulação acromio-clavicular
A articulação AC é uma união sinovial que conecta a extremidade lateral da clavícula ao acrômio do escápula. Ela permite movimentos de pequenos graus de rotação, elevação e depressão do braço, sendo essencial para a amplitude de movimento do ombro.
Etiologia das luxações do AC
As causas mais comuns incluem:- Quedas com impacto direto no ombro- Trauma esportivo, especialmente em esportes de contato ou de alto impacto- Acidentes automobilísticos- Quedas em altura ou acidentes de trabalho
Classificação da luxação do AC
As luxações do AC são classificadas classicamente em diferentes graus, dependendo da gravidade da lesão ligamentar e do deslocamento ósseo:- Tipo I: Lesão leve, com estiramento do ligamento acromioclavicular, sem deslocamento significativo.- Tipo II: Ruptura do ligamento acromioclavicular, com deslocamento parcial.- Tipo III: Ruptura completa do ligamento acromioclavicular e do ligamento coracoclavicular, com deslocamento evidente.- Tipos IV a VI: Lesões mais graves, envolvendo deslocamentos em direções variadas e podem incluir lesões nos tecidos moles adjacentes.
Código CID para Luxação Acromio-Clavicular
O CID-10 é utilizado para classificar doenças e lesões de acordo com a sua especificidade. Para a luxação acromio-clavicular, o código mais utilizado é:
Código CID-10 | Descrição |
---|---|
S43.1 | Luxação do acromioclavicular |
S43.1 abrange as diferentes formas de luxação nesta articulação, sendo uma classificação genérica que cobre as diversas gravidades da lesão.
Diagnóstico da Luxação do Acromio-Clavicular
O diagnóstico adequado da luxação acromio-clavicular envolve uma combinação de anamnese detalhada, exame físico minucioso e complementação com exames de imagem.
Anamnese
Na fase inicial, é fundamental obter informações sobre:- Modo do trauma (queda, impacto direto)- Presença de dor intensa no ombro- Documentação de deformidade visível ou suspeita- Limitação na elevação ou movimentos do braço- Sensibilidade ao toque
Exame físico
Durante o exame, alguns sinais e testes podem auxiliar na avaliação:- Sinal de deformidade ou abaulamento na região acromioclavicular- Palpação do espaço acromio-clavicular, buscando sensibilidade ou instabilidade- Testes específicos, como: - Teste de Palmar (ou TAP) para verificar a estabilidade da articulação - Teste do afastamento horizontal para avaliar a dor e o deslocamento- Observação de limitação de movimento e dor durante os movimentos ativos e passivos
Exames de imagem
Os exames complementares são essenciais para confirmar o diagnóstico, determinar o grau da luxação e planejar o tratamento.
Radiografia do ombro
A radiografia é o exame de escolha inicial. Pode incluir:- Vivência em incidências anteroposterior (AP), perfil e de carga- Comparação com o lado contralateral pode ser útil em casos duvidosos
As radiografias permitem avaliar:- Deslocamento do acrômio em relação à clavícula- Altura da clavícula em relação ao acrômio (curva de Paxinos)- Lesões associadas, como fraturas
Exames complementares avançados
Em casos complexos, podem ser utilizados:- Tomografia computadorizada (TC): para detalhamento do deslocamento ósseo- Ressonância magnética (RM): para avaliar lesões de tecidos moles, incluindo ligamentos e músculos
Tratamento da Luxação Acromio-Clavicular
A conduta terapêutica deve ser individualizada, levando em consideração o grau da luxação, idade, nível de atividade e expectativas do paciente.
Tratamento conservador
Para graus leves (Tipo I e II), o manejo não cirúrgico é frequentemente suficiente.
Princípios do tratamento conservador:- Imobilização temporária com uso de aparato ortopédico, como sling ou braçadeira- Orientação para repouso e evitar tarefas que agravem o quadro- Analgésicos e anti-inflamatórios para controle da dor- Início de fisioterapia após fase aguda, com foco na recuperação da amplitude de movimento e fortalecimento muscular
Vantagens:- Menor risco de complicações cirúrgicas- Recuperação mais rápida em muitos casos
Desvantagens:- Risco de instabilidade residual ou deformidade estética em alguns casos
Tratamento cirúrgico
Recomenda-se em casos de:- Luxações graves (Tipo III ou superiores) com instabilidade persistente- Lesões associadas, como fraturas ou lesões ligamentares complexas- Pacientes jovens e atletas que necessitam de recuperação rápida e definitiva- Deformidade estética ou dor persistente
Procedimentos cirúrgicos podem incluir:- Fixação com pinos ou fios de Kirschner- Osteossíntese com placas e parafusos- Reconstrução ligamentar com enxertos autólogos ou alogênicos
Reabilitação
A reabilitação é fundamental para assegurar uma recuperação funcional adequada- Fases iniciais: Controle da dor e inflamação, mobilização passiva- Fase intermediária: Mobilização ativa e fortalecimento progressivo- Fase de retorno às atividades: Exercícios específicos para esportes ou atividades laborais
Complicações potenciais
É importante estar atento às possíveis complicações, como:- Instabilidade residual- Instabilidade crônica- Rigidez articular- Dor persistente- Deformidades visuais ou estéticas
Fatores que influenciam o tratamento e o prognóstico
Diversos fatores podem moduler o sucesso do tratamento, incluindo:- Idade do paciente e nível de atividade física- Gravidade da luxação- Tempo de início do tratamento- Presença de lesões associadas- Reabilitação adequada
Segundo estudos publicados na The Journal of Bone and Joint Surgery, a atenção ao manejo precoce e à reabilitação adequada podem diminuir a incidência de sequelas e melhorar o prognóstico a longo prazo[^1].
Conclusão
A luxação acromio-clavicular é uma lesão comum, cuja gravidade varia de acordo com o grau de afastamento dos ossos e lesão ligamentar. O diagnóstico preciso, baseado em avaliação clínica e exames de imagem, aliado a uma conduta terapêutica bem planejada, é crucial para garantir uma recuperação funcional e estética satisfatória.
Embora muitas lesões possam ser tratadas de forma conservadora, casos mais graves ou que apresentem instabilidade persistente frequentemente requerem intervenção cirúrgica. A reabilitação desempenha papel essencial na recuperação, devendo ser conduzida por profissionais especializados.
Ao compreender as nuances deste tipo de lesão, profissionais de saúde podem otimizar o tratamento e melhorar os desfechos para seus pacientes, promovendo uma rápida retomada das atividades cotidianas e esportivas.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Qual o código CID mais utilizado para luxação do acromio-clavicular?
O código CID-10 mais comum é S43.1, que cobre as várias formas de luxação nesta articulação, incluindo os diferentes graus de gravidade.
2. Quanto tempo leva para recuperar de uma luxação acromio-clavicular?
O tempo de recuperação varia conforme a gravidade da lesão e o tratamento adotado. Para casos leves tratados conservadoramente, geralmente, a reabilitação completa ocorre em 4 a 8 semanas. Para lesões mais graves ou cirúrgicas, o retorno às atividades pode ocorrer em 2 a 4 meses, dependendo da evolução do paciente.
3. Quais os sinais de que uma luxação do AC precisa de cirurgia?
Indicações de cirurgia incluem:- Instabilidade persistente após tratamento conservador- Deformidade estética visível- Dor contínua ou limitação funcional significativa- Lesões ligamentares graves (Tipo III ou superiores)
4. Quais são as principais complicações da luxação do AC?
As complicações possíveis incluem:- Instabilidade crônica- Rigidez ou dor residual- Deformidade visível- Nervo ou vasos sanguíneos lesionados em casos extremos- Recaída ou instabilidade recorrente
5. Como é realizada a reabilitação após o tratamento da luxação do AC?
A reabilitação envolve diversas fases:- Imobilização inicial por 2 a 3 semanas- Mobilização passiva e ativa assistida- Exercícios de fortalecimento muscular- Retorno gradual às atividades diárias e esportivasEsta deve ser conduzida por fisioterapeuta especializado para evitar recaídas.
6. É possível prevenir a luxação do acromio-clavicular?
Embora nem todas as luxações possam ser evitadas, medidas preventivas incluem:- Uso de equipamentos de proteção em esportes de contato- Técnicas corretas ao praticar atividades físicas- Fortalecimento muscular do ombro e região escapular- Evitar quedas ou impactos desnecessários
Referências
- K. Beitzel, et al. "Management of acromioclavicular joint injuries". Journal of Bone and Joint Surgery, 2019. https://journals.srs.org
- Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Guia de Conduta em Lesões do Complexo Acromioclavicular. Disponível em: https://sbot.org.br
- World Health Organization. Classificação Internacional de Doenças (CID-10). 2016.